A superpopulação de pombos faz acender mais um sinal de alerta na Capital. Uma pesquisa realizada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) identificou a presença do fungo Cryptococcus neoformans, presente no excremento de pombos, em dezenas de escolas da Reme (Rede Municipal de Ensino).
Guilherme Cavalcante – Midia Max
Apesar da doença acometer pessoas com algum tipo de deficiência imunológica (como portadores de HIV, transplantados, diabéticos e hipertensos), a criptococose é uma doença perigosa e pode até matar.

Assim como outras infecções causadas por fungos, ela é frequentemente negligenciada, isso porque o diagnóstico costuma ser mais difícil em estágios iniciais, pois os sintomas se parecem muito com outras doenças mais comuns. Logo, o quadro clínico pode seguir evoluindo até agravar-se.
As lesões mais específicas da criptococose – que são nódulos e abcessos nas membranas pulmonares e até mesmo nas cerebrais – aparecem nos estágios mais avançados, justamente quando o espectro de medicamentos utilizados no tratamento diminui. Por isso, ela é tratada como uma doença de consequências fatais, caso não seja identificada a tempo.
Fezes de pombos
As informações integram parte do resultado preliminar de pesquisa desenvolvida por Dario Correia Junior, biólogo e mestrando do programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da UFMS. No levantamento, sob a orientação da professora Marilene Rodrigues Chang, Correia realizou a coleta de fezes de pombos em 85 escolas municipais de 1º a 9º ano e identificou o fungo causador da criptococose em 60 delas.
Na fase de levantamento de dados, que durou cerca de 8 meses, Correia coletou amostras dos excrementos com autorização da Semed (Secretaria Municipal de Educação). Nas amostras que acusaram o fungo, foi feita a identificação do tipo de Cryptococcus e, posteriormente, uma análise mais aprofundada no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, permitiu identificá-los como do gênero neoformans.

“A criptococose é causada pelo fungo Cryptococcus, que tem algumas variações. O Cryptococcus gattii, está presente principalmente em madeira em decomposição e pode acometer pessoas com sistema imunológico saudável, mas é bem mais rara. Já o tipo identificado é o Cryptococcus neoformans, que é associada a excrementos de pombos. Ele afeta pessoas imunossuprimidas. A maior parte das pessoas que adoecem são em decorrência deste gênero do fungo”, explica.
O problema abre a discussão sobre mais uma doença que pode ser causada pela infestação de pombos na cidade, um problema que ultrapassa Campo Grande. São ao menos cinco zoonoses associadas a pombos: a criptococose, a salmonelose (infecção bacteriana), encefalites (infecções virais), toxoplasmose (infecção por protozoários) e E. Coli (bactéria).
Agrava o quadro o fato que as infecções fúngicas, via de regra, costumam ser negligenciadas e não são de conhecimento público. Além disso, praticamente toda família tem algum tipo de imunossuprimido, seja por ser portador de HIV, seja por tratar diabetes ou pressão alta.

“Encontrei o fungo em escolas, mas isso é um indicativo de que pode haver em outros lugares, pois os pombos são migratórios, fazem ninhos em vários lugares, estão por toda a cidade. Quer dizer, existe uma preocupação que precisa ser vista”, aponta Correia.
Segundo ele, o alerta serve para toda a população. “Todos nós convivemos com pombos e ignoramos os riscos que podem surgir. Seguimos alimentando-os, não protegemos telhados e lugares onde eles podem fazer ninhos. As pessoas devem ter o conhecimento desses riscos”, detalha.
Escolas atentas
Para a titular da Superintendência de Gestão e Normas da Semed, Alelis Izabel de Oliveira Gomes, a pesquisa chancela a hipótese de que os pombos são algo a serem combatidos, sobretudo nas escolas.
“Esta é uma preocupação recorrente. Atualmente, cada gestor escolar tem feito o controle da presença de pombos de uma maneira, é algo que é muito discutido. Mas, a Semed está se organizando para telar todos os locais que podem servir de ninhos. É a primeira vez que vamos investir sistematicamente no combate aos pombos”, detalha.
Atualmente, escolas já são orientadas a ensinarem os estudantes a não alimentar o pombos, um dos fatores que atrai as aves às escolas. “Notamos, por exemplo, que durante os recessos escolares, pombos saem em busca de outras moradias. Temos experimentado algumas soluções, umas eficazes e outras nem tanto. Mas tudo passa, também, pela orientação de que não devemos alimentar esses animais”, explica a superintendente.
No fim de janeiro, diretores escolares deverão passar por mais um treinamento no qual o assunto voltará à tona. “Neste dia, já vamos orientar para começar uma campanha com o alunado. Como professores, sabemos que o conhecimento vem das pesquisas e por isso queremos aproveitar essas informações para que a conscientização seja levada à sério na comunidade escolar”, finaliza.
Cartilha

A pesquisa de Correia também previu a criação de um projeto de extensão da UFMS na qual fosse possibilitada a produção de material didático para orientar professores (clique AQUI para fazer o download). De acordo com a UFMS, cerca de 180 professores, de 85 escolas municipais, passarão por treinamento no projeto.
“A ideia é abordar a parte ambiental, enquanto a professora (médica infectologista) Anamaria Mello Miranda Paniago explicará sobre o diagnóstico clínico da criptococose e minha orientadora (farmacêutica-Bioquímica), professora Marilene Rodrigues Chang, mostrará como é feito o diagnóstico laboratorial dessa doença”, conclui Correia.