Um grupo de advogados protocolou na manhã desta quinta-feira (9), na sede da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul) um pedido de urgência na investigação da morte do soldado da Vinicius Ibanez Riquelme, de 19 anos, na 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista, a 324 quilômetros de Campo Grande. O atestado de óbito do militar indica choque, necrose centrolobular, distúrbio hidroeletrolítico, desidratação, síndrome infecciosa e realização de exercícios físicos rigorosos.
Segundo a advogada e Coordenadora do movimento Juristas pela Democracia, Gisele Marques, mães de soldados procuraram o grupo relatando que os filhos estão no mesmo comando, mas temem pela integridade física da família. Elas mencionaram que os soldados passaram por episódios de treinamentos exagerados e tortuna.
“Por esse motivo, os advogados pediram que a OAB-MS solicite o imediato afastamento do Comandante do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizada de Bela Vista- Mato Grosso do Sul, Kenji Alexandre Nakamura, a fim de que as investigações sejam de fato eficazes. Não há garantias de lisura nas investigações se o acusado tem as testemunhas sob sua custódia”, disse.
O pedido ainda requer um grupo de trabalho providenciado pela OAB-MS para acompanhar as investigações e tome as providências necessárias. O advogado Lairson Palermo, Coordenador da Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania, explicou que o ofício orienta a Ordem para envio da equipe de trabalho ao comando de Bela Vista para a outiva das mães.
Atividades exaustivas
Ao todo, 48 militares buscaram atendimento médico após a realização de um exercício de campanha em Bela Vista. A informação foi confirmada ao Jornal Midiamax pela 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada no dia 29 de abril. Segundo a corporação, os recrutas do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista passaram por um exercício de campanha.
O recruta Vinícius Ibanez Riquelme foi submetido a realização de atividades físicas durante um treinamento de campo com o grupo. De acordo com informações, grave estado de desidratação teria afetado os rins dele. Amigos e familiares do rapaz denunciam que, entre as principais causas da morte do militar, além de um possível quadro de ‘desidratação’, estão ‘esforços exaustivos durante os exercícios físicos’, realizados em uma manobra militar.
Depois do treinamento, 48 militares procuraram atendimento médico com sintomas de infecção viral semelhantes, entre recrutas e militares da equipe de instrução. Destes, 24 estão sendo atendidos, sendo 20 recrutas e 4 integrantes da equipe de instrução. Dois deles estão em tratamento intensivo e estáveis, informou em nota.
Dos militares internados, 5 já receberam alta e outros quatro foram diagnosticados com Influenza após realização de exames.
Um dos soldados teve de ser transferido para a Santa Casa de Campo Grande, onde está entubado, em coma induzido e com uma mancha no pulmão, segundo os médicos que o atenderam. “Entreguei meu filho saudável”, disse a mãe do militar que o acompanha no hospital.
A brigada também informou em nota que foram adotadas algumas medidas sanitárias para evitar que os casos de Influenza se tornem mais graves. Foi reforçado o serviço de saúde da unidade, tanto com equipe médica, quanto com ambulâncias.
Encaminhamento de Ofício à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e à Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, a fim de que ambas auxiliem na investigação dos fatos.
Morte por desidratação
A certidão detalha que o rapaz morreu por choque, necrose centrolobular, distúrbio hidroeletrolítico, desidratação, síndrome infecciosa e realização de exercícios físicos rigorosos.
“Até o momento não há nenhuma prova de que Vinícius estivesse com influenza, nem que essa teria sido causa para sua morte”, afirma o advogado que representa a mãe de Vinícius, Fernando Lopes de Araújo.
Conforme as causas, choque é quando o fluxo sanguíneo está baixo e reduz o fornecimento de oxigênio para os órgãos. Necrose centrolobular é a necrose do fígado, consequência de anemia aguda, e distúrbio hidroeletrolítico é quando a pessoa perde muito líquido corporal, e leva a desidratação.
Vinicius passou por treinamento entre os dias 22 e 26 de abril. No último dia, os soldados voltaram em marcha, a pé, quando o recruta não suportou e caiu ao chão desmaiado.
Ele foi levado para a ambulância e depois para a enfermaria do quartel, onde ficou por 4 horas até ser transferido para o hospital local São Vicente de Paulo.
O hospital solicitou ‘Vaga zero’ para Campo Grande e às 19h30 daquele dia ele foi encaminhado para a Santa Casa da Capital, onde morreu às 6h45 do dia seguinte.
“Eles foram forçados a comer alho e cebola com casca, ficaram durante horas expostos ao sol quente sem beber água, não foi autorizado atendimento no local do treinamento aos recrutas que estavam se sentindo mal, ou seja, houve omissão por parte dos responsáveis”, informou o advogado.
Outros recrutas apresentaram febres e dores no corpo durante o treinamento, mas não teriam sido medicados, nem levados para serem avaliados.
Diante da situação, a defesa diz que aguarda o laudo necroscópico que tem até 30 dias para ficar pronto e com ele em mãos pretende tomar as medidas necessárias. “Iremos requerer ao Ministério Público que promova ação penal contra os responsáveis e ajuizar ação de indenização contra a União Federal”.